Diva: adjetivo ou substantivo
comum, simples, feminino, singular, dissílaba, paroxítona. Do Latim, Divus, que
significa deusa. O quê? Ele disse deusa? Ah meu Deus! É blasfêmia, heresia,
idolatria, bruxaria, queima! Nããão, não, não, não, não... Me perdoem os
legalistas de plantão, mas não é esse tipo de alusão que eu pretendo fazer
aqui. Eu não vim falar sobre teologia. Prefiro ficar com a definição mais
técnica e menos espiritual da palavra diva, se é que vocês me entendem. O
conceito mais contemporâneo. Mulher encantadora, forte, charmosa, incomum,
maravilhosa, segura, brilhante, bela, autoconfiante. Personificação de uma
mulher que seja exemplo para outras, que sirva de inspiração. Diva é aquela
mulher que não perde a compostura nem mesmo nas discussões mais ásperas. Não,
você não vai ter o gostinho de vê-la descer do salto, porque até quando ela
repreende, o faz com classe. Firme, mas com classe. Diva é aquela que consegue
estar elegante mesmo de camiseta e tênis, caminhando numa terça de manhã. Ela é
sóbria no falar, mas sabe se fazer ouvir. E como sabe!! E apesar de uma certa
imponência intimidadora, tem o coração mole. Ela é empática, chora pelos seus e
com os seus, mas no que diz respeito a si mesma é firme e exigente. A diva é
discreta no ouvir. Ela sabe dar ouvidos.
E num mundo onde a
satisfação egocêntrica dos desejos tem se tornado o padrão de procedimento da
maioria, uma empatia sincera e desinteressada tem sido rara e é digna de
louvor.
E falando em dar
ouvidos... O divã: substantivo comum, simples, concreto, masculino,
singular, dissílaba, oxítona. O divã, uma representação quase icônica do
tratamento do ser, da correção dos desvios, do pagamento voluntário das
dívidas, da alma despida, nua, desnuda. Da confissão inerente, iminente ou já
aparente. A transparência da redenção, a limpidez da confissão, o alívio da
libertação. O divã tem esse poder. O Éden foi o divã de Adão. O Moriá foi o
divã de Abraão. Peniel, de Jacó. Egito, o divã de José. De Moisés o deserto foi
divã. De Sansão, a cegueira. Natan, foi o divã de Davi. A glória, o divã de
Salomão. A prostituta foi o divã de Oséias. E a cruz, a cruz foi o divã de
Cristo, onde confessadas as mazelas, expostas as vergonhas, denunciadas as
chagas, há tratamento para toda a alma vivente.
Diva e divã, duas
palavras tão semelhantes de mundos tão diferentes. Poucas pessoas as consegue
reunir. Mas com certeza uma delas está aqui hoje.
Nossa pastora, apóstola,
psicóloga, amiga, mãe, e com todo respeito, nossa malvada favorita. E não me
entendam mal. A malvadeza dos bons especialistas não está nas suas condutas,
mas na imaturidade dos pacientes. São as crianças que consideram o dentista e o
enfermeiro malvados, pôr as terem feito sentir dor em uma obturação realizada
ou na picada de uma injeção. Porque as crianças não sabem o benefício que está
por trás da dor. Elas são imaturas, não compreendem. Mas nós maduros, adultos,
gente grande, entendemos, ou pelo menos deveríamos entender, que... Como diz
mesmo aquela expressão em inglês? “No pain, no gain”. Traduzindo: sem dor, sem
ganho. Se não dói, não trata. E nós sabemos disso, por isso não leve a mal
nossas brincadeiras. É que só às vezes nós gostamos de ser um pouquinho
crianças e ficar só um pouquinho de bico pela dor que sentimos, sabe? Mas só
até a próxima consulta. Eu escolho o tratamento do divã da vida. O divã da
diva.
A diva que não devendo
divagar em devaneios de dúvidas, devido a uma dívida de vida, tem o dever
deveras de devolver ao divino a devoção que lhe é devida.
Divaguei. Enfim...
Diva e divã. Afinal de
contas, a diferença é apenas um ac(ss)ento.
Autor: Paulo Victor de Souza